sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Kristian Carnahan

O jovem assassino de Águas Profundas acreditava que seu futuro não lhe reservava mais nada além de executar mercadores mal-protegidos e ganhar recompensas miseráveis por seus feitos escusos. Até o dia em que ele foi abordado pelo velho Aron Modar, um sinistro estudioso das artes arcanas que era um membro secreto da organização conhecida como Culto do Dragão. A princípio, Kristian acreditava que Modar era apenas mais um contratante que queria eliminar algum rival, porém as coisas mostraram-se bem diferentes dos pensamentos do jovem.

Aron Modar conduzia experiências em segredo de sua própria seita, porém usando os recursos fornecidos por eles. Assim como todos os membros do Culto do Dragão, ele procurava obter controle sobre dragões, utilizando-se de quaisquer meios possíveis. Suas experiências mais recentes envolviam o uso de uma jóia que continha dentro de si a alma de Ungerdoramon, um dragão negro. Ao ser fundida a alguém com o potencial adequado para receber a jóia, ela despertaria aos poucos a alma do dragão aprisionado, permitindo que ela tomasse o lugar da alma do hospedeiro. Com isso, ele se transformaria aos poucos em uma criatura semelhante a um dragão, porém sem chegar a ser um dragão completo. Assim, o controle sobre ela seria mais fácil. Modar planejava encontrar alguém com potencial para abrigar a jóia e, com o passar do tempo, receber a alma do dragão. E o jovem Kristian Carnahan mostrou-se o candidato perfeito.

Sem estar ciente de sua situação, Kristian cumpriu algumas tarefas para o mago, que serviram apenas para mostrar seu valor a ele. Após algumas semanas de trabalho, ele foi capturado e levado até a torre de Modar, onde foi realizado o ritual que incrustou a jóia mística em seu peito. Se tudo corresse bem, logo a alma de Kristian seria substituída pela de Ungerdoramon. Durante a conclusão do ritual, porém, Kristian teve um vislumbre das intenções do dragão aprisionado na jóia. Ele compreendeu que em breve sua própria alma não teria mais como resistir à vontade do verme e cederia seu espaço a ele. Mas sua determinação não foi suficiente para impedir que o ritual fosse terminado e a jóia encontrava-se então fundida em seu peito.

Satisfeito, Modar aproximou-se dele e o libertou, explicando tudo aquilo que ele já havia entendido que estava acontecendo com ele. Neste momento, porém, a torre do mago foi invadida e Modar abandonou o jovem momentaneamente para lidar com os atacantes. Sem desperdiçar esta milagrosa oportunidade, Kristian fugiu da torre, deixando a batalha para trás e sem saber seu resultado.

Seu destino já estava traçado. Ele estava fadado a deixar de existir e dar lugar a uma criatura de imenso poder. Ele então voltou todos seus pensamentos e toda sua vontade para fazer algo que pudesse reverter esta situação. Kristian Carnahan percorreria toda Faerûn, mataria quem fosse preciso e desafiaria os próprios deuses para livrar-se de sua sina.

Assim iniciou-se um período de peregrinações na vida de Kristian. Suas andanças o levaram para longe de Águas Profundas, em busca de algo ou alguém que pudesse salvá-lo.

Durante as primeiras etapas da viagem sem rumo, o jovem percebeu que suas intenções malignas faziam com que Ungerdoramon começasse a despertar dentro dele. Com isso, ele passou a refrear mais seus instintos e começou a agir de forma diferente, controlada, de modo que nada estimulasse o despertar precoce do dragão negro.

Esta mudança de atitude fez com que algumas pessoas aproximassem-se mais de Kristian, sem interesses ou segundas intenções, e isso o levou a vivenciar sentimentos que ele desconhecia. Ele agora sentia um mínimo de afeto por pessoas que tornaram-se próximas, mas ainda recusava um pouco esses sentimentos. Tudo aquilo que ele havia sido antes ainda exercia certa influência sobre ele, e manter a alma de um dragão maligno dentro de si não ajudava muito a desenvolver bons sentimentos.

Em suas andanças, Kristian aliou-se a um bando de viajantes que cruzavam as Terras Centrais na direção de Cormyr. Eram mercadores vindos de Calimshan e levavam com eles dois mercenários responsáveis pela proteção do grupo, um clérigo de Lathander e um anão guerreiro. Durante a viagem com os mercadores, Kristian acreditou que os dois guarda-costas eram pessoas de confiança e contou a eles sua história, na esperança de que eles pudessem ter alguma informação valiosa. Infelizmente, eles nada sabiam do que podia ser feito a respeito, mas ofereceram outra forma de ajuda a Kristian.

Ulbion, o clérigo de Lathander, forneceu-lhe iluminação espiritual, falando a respeito de bem e mal, provações e redenções, e sobre o que espera cada mortal após a morte. Estes ensinamentos acalmaram o espírito de Kristian, que passou a ver o mundo e as pessoas de forma diferente. Porém, eles também incutiram um novo medo em seu coração: o medo da morte. Depois de todo o mal que ele havia feito em vida, o que lhe aguardava ao final dela deveria ser algo além de seus piores pesadelos.

Arthikus, o anão, deu-lhe uma espada forjada por sua família e que estava acumulando poeira, já que o anão havia dedicado-se a lutar com um machado de duas mãos obtido em uma de suas aventuras. O nome da espada era Mazhartûl, que significa Dente de Dragão na língua dos anões. Kristian considerou a espada um presente adequado, levando em conta sua própria situação. Ao entregá-la, Arthikus disse que ela seria útil para arrancar a jóia do próprio peito se todo o resto falhasse.

Quando a caravana passava próximo às Colinas Trielta, Kristian despediu-se de seus primeiros amigos e tomou o caminho norte, ainda em direção ao desconhecido, mas agora munido de novas aquisições: um certo avanço espiritual e a lembrança de amizade que ele nunca havia conhecido.

Cavalgando sozinho para o norte, Kristian certo dia cruzou o caminho de um ogre errante. A besta vagava por um pequeno bosque e parecia seguir algum tipo de rastro. O jovem decidiu segui-lo por um tempo até que ele chegou ao pé de uma colina. Ali, em meio às pedras, Kristian pode ouvir um baixo som de choro de criança.